quinta-feira, 29 de julho de 2010

RESENHA


TUDO SOBRE MINHA MÃE (Tudo sobre mi madre)


Andréa Alves de Carvalho

aavesc@ig.com.br


“Tudo sobre minha mãe” (Todo sobre mi madre, Espanha/França, 1999) é um drama que lida com vários temas das relações de gênero e identidade sexual complexos como AIDS, drogas, doação de orgãos, violência contra homossexuais, travestis, bissexuais, homossexuais tanto femininos como masculinos, identidade sexual, prostituição, machismo, transexualidade, transgênero e existencialismo pela sua liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade das cenas.

Foi dirigido pelo cineasta, ator e argumentista espanhol Pedro Almodóvar Caballero que consegue transformar histórias em obras de arte únicas, de sensibilidade extrema e de enredos interessantes.

Almodóvar nunca pôde estudar cinema, pois nem ele nem sua família tinham dinheiro para pagar seus estudos. Antes de dirigir filmes, foi funcionário da companhia telefônica estatal, fez banda desenhada, ator de teatro avant-garde e cantor de uma banda de rock, da qual participava travestido. Foi o primeiro espanhol a ser indicado ao Oscar de melhor diretor. Homossexual assumido, seus filmes trazem a temática da sexualidade, abordada de maneira sublime.

O filme venceu vários premios nas categorias de melhor filme, melhor direção, melhor atriz (Cecilia Roht), melhor trilha sonora, melhor direção de produção, melhor montagem e melhor som. Também teve várias indicacões importantes nas categorias de melhor fotografia, melhor figurino, melhor maquiagem, melhor revelação/atriz (Antonia San Juan), melhor direção de arte, melhor roteiro original e melhor atriz coagjuvante (Candela Penã). Vencedor do Oscar e do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.

Em resumo, o roteiro apresenta, Manuela (Cecilia Roht), uma mãe solteira, que vive com seu filho, o adolescente e precoce escritor de dezesste anos Esteban (Eloy Azorin), ele possui um insepável bloco de anotações para escrever um conto sobre sua mãe. De presente ele pede para assistir aos seminários que ela fazia sobre transplantes de orgãos, também recebeu de presente de aniversário o bilhete de ingresso para ver a nova montagem da peça “Um bonde chamado desejo”, estrelado por Huma Rojo (Marisa Paredes, de que era fã.

Logo após a peça, na saída do teatro, Esteban fica esperando as estrelas saírem, para tentar conseguir um autógrafo, mas é atropelado morrendo em seguida. No seu trabalho, Manuela representa uma encenação de teatro no qual, faz uma mãe que tem que doar os orgãos de seu filho morto, sendo bem visivel nas cenas do filme. Pela ironia do destino agora, com o seu próprio filho morto ela tinha que transformar a cena que fazia do transplante de orgãos com a sua realidade.

Sozinha e sabendo que o filho queria conhecer o pai (uma travesti chamada Lola), começa a fazer o retorno a Barcelona, para dar a triste noticia.

No caminho, reencontra sua amiga travesti e ta,bém prostituta Agrado (Antonia San Juan), e tenta recomençar a vida sem o filho. No meio da sua jornada, envolve-se em dramas de amigos, como as lésbicas Huma Rojo e Nina (Candela Penã), que vive drogada. Manuela conhece a irmã Rosa uma freira que faz um trabalho assistencial com travestis e prostitutas e que se descobre grávida e com o vírus da AIDS; A enfermeira descide então deixar de lado sua tragédia pessoal para ajudá-los, também vai ao encontro de Huma, atriz que estava ligado a morte de seu filho.

O tempo todo o diretor brinca com as categorias esteriotipos do público: o marido tinha colocado um par de peitos, um pai era travesti, uma freira engravida (desse mesmo travesti). Segundo Maluf (2002), o que surpreende nessa película é a naturalidade: os escândalos e a transgressão aparecem e vão se tornando eles próprios objetos de atração e de identidade dos espectatores; isto é, as pessoas podem rever sua identidade de gênero em vários níveis, ver com outros olhos o mundo a respeito dos temas propostos e abordados nas cenas, revendo o seu preconceito (muitas vezes está escondido).

Não podemos deixar de comentar sobre alguns personagens do filme e vamos enfocar em especial dois deles: como uma ótima atuação de Marisa Paredes, tem um ar de melancolia e tristeza tão presente que parece não ser atriz algo intencional, mas natural. Outro que destacamos e que procura ser natural, autêntica e realista é Antonia San Juan, que interpreta a travesti Agrado.

Agrado segundo Maluf (2002), não busca o ocultamento, não faz de conta que é, mas se comporta como se sempre tivesse sido mulher reconhecendo-se assim. De acordo com a própria personagem, a sua afirmação pública é feita pela exibição de seu corpo exatamente pelo que ele é: um corpo transformado, fabricado, que aparece e se afirma como corpo modelado, não um corpo substantivo, objetificado, mas uma corporalidade, veículo e sentido da experiência. A autenticidade desse corpo, sua natureza segundo o próprio discurso de Agrado, estaria no processo que o fabricou.

Ao dizer que o que tem de mais autêntico é o silicone, Agrado está revelando que o autêntico nela é justamente produto de sua criação, da intervenção de seu desejo, de uma agência própria. Isto é, o corpo de Agrado está transformado por conta de um desejo pessoal de ser uma mulher autêntica, com linhas e traços femininas tanto psicológica como fisicamente.

Almodóvar mostra de forma brilhante o motivo pelo qual é considerado um dos maiores diretores da atualidade. O seu filme representa muito o novo mundo e a visão moderna que vai permitir aos homossexuais mostrarem cada vez mais seus dramas dentro da sociedade. A forma como ele coloca questões como corpo e gênero nos aportam elementos para repensar esses conceitos a partir da experiência de margem que é o fenômeno transgênero.

Portanto, a experiência de transgênero é um dos temas que possibilita uma renovação das nossas reflexões, dos conceitos e da própria teoria dentro do campo de estudos feministas e de gênero, porque em suas diferentes formas de manifestação, ela tem revelado aspectos das relações de gênero que durante muito tempo ficaram escondidos. S]ao esses aspectos que, segundo Maluf (2002), mais se sobressaem na reflexão sobre a experiência transgender, que estão ligados ao caráter artificial e fabricado do gênero e das diferenças de gênero, ou seja, de sua formação cultural, social e política.

O cineasta faz menção também a um outro personagem que só aparece no final da trama e que tem relação, direta ou indiretamente, com todos os personagens e histórias do filme: que é a travesti Lola, interpertado pelo autor Toni Cantó. Diante do que foi visto no fime este personagem é considerado pela autora desta resenha como uma pessoa que possui uma orientação sexual pansexual diferente da bissexual, caracterizada por atração estética potencial, pelo amor romântico e pelo desejo sexual por qualquer um, incluindo aquelas pessoas que não se encaixam na relação binária de gênero macho/fêmea (implicada na atração bissexual).Essa orientação também é descrita como a capacidade de amar uma pessoa de forma romântica, independente do gênero. A pansexualidade inclui adicionalmente atração por outros gêneros e sexos como os daqueles que se identificam como transgênero, ou como intersexo por serem indivíduos que possuem ambos os órgãos genitais (Wikipédia, 2009).

Assim, recomendo a todos(as) assistirem a “Tudo Sobre Minha Mãe” por nos mostrar uma história com situações e personagens únicos, e com um realismo que provoca risos e lágrimas. Indico esse filme para os estudos sobre a dinâmica das relações de gênero, envolvendo temas como: homossexualidade e bissexualidade em contextos sociais preconceituosos, traição, atração física, saudades, reforçamento intermitente no controle das relações amorosas, controle aversivo social para com as relações homossexuais, comportamento de confiança, determinação, reflexão de pessoas que se abdicam de seus interesses pelos outros e / ou pela sociedade, entre outros que já foram mencionados neste texto. É um filme com que certamente descobrimos algo sobre nós mesmos.



Sugestões Didáticas:


1. Antes de exibir o vídeo aos alunos, o professor deve assisti-lo para saber quais tématica abordadas.

2. Fazer algumas atividades sobre os assuntos abordados no filme na sala de aula:

· Atividade do “gosto ou não gosto”.

ü Objetivo:

Fazer com que os alunos respeitem os gostos que seus colegas têm.

ü O que o professor ou a professora faz:

Pedir para os alunos desenhar em um papel uma coisa de que gostam muito e outra de que não gostam. Enquanto isso o professor passa pela sala conhecendo melhor os alunos e demonstrando respeito pelas opiniões deles. Depois de um tempo pré-estabelecido, os alunos mostram para a classe os seus gostos (e se a classe for muito grande para um subgrupo da classe). Ao final, o professor faz um fechamento pedindo para que eles reparem os gostos diversos que sala em chamando a atenção para, o principal: é que cada um respeite o gosto do outro. O respeito passa a ser a chave das aulas, orientando-as: onde não importa o que o outro pense, diga ou goste, há que se respeitá-lo pelo que ele é.

· Atividade do jogo do toque

ü Objetivo:

Permitir maior interação e contato entre os adolescentes para descontração.

ü O que você faz:

1 - O facilitador solicita que o grupo fique no centro da sala, à vontade.

2 – Dá aos participantes comandos como: pé com pé, braço com braço, etc. Os participantes circulam, dançam, respondendo aos comandos.

ü Pontos para discussão:

a) Sensações captadas pelo contato com o outro.

b) Pessoas que sentem dificuldade de proximidade com os outros.

c) Sentimentos agradáveis (ou desagradáveis) durante o contato com diversos participantes?

ü Resultados esperados:

Proporcionar o contato entre os adolescentes, de forma agradável, sem abuso ou preconceito.

s:

3. Ministrar uma aula sobre educação sexual na sala, abordando os seguintes temas:

· Corpo (feminino e masculino);

· Orgãos Genitais;

· Doenças Sexualmente Transmissíveis (AIDS, etc.);

· Grávidez Indesejada;

· Prevenção de doenças e da grávidez;

· Homoparentabilidade;

· Trangeneridade;

· Identidade sexual/ Orientação sexual.

4. Fazer uma abordagem acerca das Relações e Conceitos de Gênero e Diversidade.

5. Apresentação do vídeo “Tudo sobre minha mãe” e debate.

6. Pedir que os alunos descrevam os temas de que o filme trata e, em seguida, fazer uma reflexão individual:

Tema

Reflexão individual

7. Fazer uma discussão com os alunos a respeito dos temas que o filme aborda através de questionamentos:

a) Como você reagiria se soubesse que na sala de aula houvesse um colega homossexual ou uma colega travesti?

b) Você conhece alguém homossexual? Se positivo, como é sua relação com ele ou ela?

c) Como você previne a gravidez ou as doenças sexualmente transmissíveis?

d) Você respeita a orientação sexual de seu colega?

e)

8. Propor na aula um lugar para os tímidos e anônimos (Colocar uma caixa onde os alunos possam deixar bilhetes com perguntas, ou então escrever que dúvidas têm a respeito da temática que são recolhidos ao final da aula.


Referências:


MALUF, Sônia Weidner. Corporalidade e desejo: Tudo sobre minha mãe e o gênero na margem. Revista Estudos Feministas. 2002, vol.10, n.1, pp. 143-153. Disponível em: . Acesso em: 18 de setembro de 2009.

Wikipédia. Pansexualidade. Disponivel em: . Acesso em 18 de setembro de 2009.


Sugestões de Leituras:


BRASIL. Gênero e diversidade sexual na escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos. Cadernos SECAD n. 4. Brasília: Ministério da Educação, 2007.

MALUF, Sônia Weidner. Corporalidade e desejo: Tudo sobre minha mãe e o gênero na margem. Revista Estudos Feministas. 2002, vol.10, n.1, pp. 143-153. Disponível em: . Acesso em: 18 de setembro de 2009.


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